domingo, 12 de novembro de 2023

não é sempre

não é sempre que a gente sabe o que sente
eu, por exemplo, sinto de repente
uma paixão ou gripe 
não é sempre que sei qual é qual.
há, por vezes, aquela gripe mal curada, de tempos atrás, que volta
benegripes e um disco de Paul Simon dão conta de curar
amores que te deixam de cama
gripes que vêm, ficam longo tempo e parece que te mudam pra sempre
amores que precisam ser combatidos e expelidos 
gripe ou amor?
não sei qual me aflige agora,
mas há tempos que não espirro.

naufrágio

a juventude apaixonada
é sempre visceral

concertar

de certo como a brisa nos encontrará em tua sacada
doentio cenário de atrocidades contra meu coração
de modo que careço de forças para ignorar tua felicidade
deglutir a comida indigesta que me serves morna
danoso conserto por remendas sempre a ti tão palatável
desde que sem falar palavra
jamais saberei a verdade
jogada ao relento de quem esconde
jantares em que o cardápio serve a coragem cozida 
jornada perdida cinismo e cólera
juntada em cacos sem importância
já hoje que me resta desta lambança...
concertar.

bem quando

bem quando julguei que sabia, 
fui atingido outra vez pelo avesso da razão 
sutil momento em que toma conta o coração 
e comanda o raciocínio à revelia 

se não há sombra de memória em tua casa
nem na praia, praça ou orla
no campo, na estrada
na ilha, na beirada
arquibancada

se não há sombra de memória em teu interior 
me submeto então à sorte desalmada que me apunhala, sorridente ante meu sofrimento 
me calo e espero momento de renascer 

mas se há ainda em teu suspiro abrigo contra o relento
resto de afeto, alento 
aceito de peito aberto o teu passo
e peço que concedas qualquer traço 
gota que for do gosto de teu sentimento.

eu me rendo

és muitas mulheres e muito mulher.
não cabes numa vida só. tampouco num só corpo.
de modo que transbordas.
esbanjas. 
escorro por entre tuas pernas.
porta do conhecimento do bem e do mal.

a árvore da vida. 
o fruto da morte. 

ambas, solenes, se rendem a ti. também a ti me rendo eu.

cartógrafo

amparado por lençóis sobre a pia
sob o escuro de tuas coxas
tateando desordenado em hora roxa
mapeando com a boca tua geografia

sem título, sem trégua

a dor do amor surrado
lateja em um lugar vazio.

wit

it is extremely windy today
like my mind since you've gone
heavens and waves, united once more
as a mere coincidence
an undisputed proof that the gone days are done days
and old loves are impossible.

to repeat or deny.

what was it that to the ages reached such an higher ground and indelible stamp?

i don't know.
it's gone. with the wit wind.

felicidade é bicho solto

eu não acho possível ser feliz
a felicidade não é possível
sim, isso mesmo
é impossível capturar a felicidade
bicho solto que é, vai e volta
chega, encanta a todos e, repentinamente, vai embora
volta, de tempo em tempo, porque gosta de causar risos e calor
como num bom café compartilhado
a felicidade adora café, mas vive de compartilhar
há locais onde ela não pode aparecer, evita
cuida de si e não se achega onde há rancor e desafeto
chora nos salões em que não encontra fraternidade e autruísmo
desapercebida, se retira
é assim que é. ninguém a tem como posse
ela vai onde deixam, onde pode
há de chegar o dia em que a felicidade, imortal, não encontrará mais restrições ou placas de perigo
o dia em que só importe o que é amor
estará, então, a felicidade em todo lugar

mais alto

"o teu amor pe uma mentira que a minha vaidade quer"               e teu corpo em minha boca               é a verdade que meu des...