quarta-feira, 29 de julho de 2020

travessia

onde onde estão vocês?
onde foi parar?
a face amiga do lado...
já não mais está.

onde está o amor?
o acorde ao acordar?
a amiga tão querida,
a nota já perdida,
a risada estridente,
onde está a gente,
sofrida, mas contente?
que canta pelos cantos,
de todos os encantos
o mais belo colorir.

onde os vagões do trem da vida
vão nos levar?
à travessia mais bonita!
põe a vida no lugar.

com Luiz Pi Freitas

estrada

ei, você ai! que anda tão triste
cabisbaixo, pelos cantos
anda logo aqui
me conte a razão desse teu pranto

ei, você aí! que anda tão triste
cabisbaixo, pelos cantos
senta logo aqui
me conta teu caminho nessa estrada

eu quero que você me mostre toda dor
eu quero que você se livre deste peso que te marca

te veste de alegria, toma a vida pelas mãos
eu quero que você deixe os seus medos na calçada
quase nada...

ei, você ai! me deixe te dizer o que me trouxe até aqui
corre logo aqui que eu conto a razão do meu sorriso

tenho muito mais cicatrizes do que alegrias
mas não importa... ainda canto
canto a minha história
e carrego minha paz nessa jornada

quase nada você leva daqui.

com Luiz Pi Freitas


flor de lis

traz a chuva, traz o vento
que eu quero me molhar

traz o riso pra aqui dentro
eu quero gargalhar

vem aqui, flor de lis
não demora pra se achegar
vem de novo, sempre quis te encontrar

traz teu sonho, traz teu beijo
que eu quero me banhar

não demora, vem de novo
perco os pés ao caminhar

você corre e eu te chamo
no teu peito eu me arramo
tua carne à flor da pele
tua saliva me derrete

vem aqui, flor de lis
não demora pra se achegar
vem de novo, me bate, até me remoldar

com Júlia Freitas

Gabi

vi um belo livro na estante
me interessei por ele num instante
quando li suas páginas, logo, percebi
a razão de todo aquele interesse
quem me dera todo o mundo lesse
a poesia escrita ali

não sei se eu posso falar 
com precisão, te contar
mas eu sei! eu sei o que eu li
eram apenas quatro letras
a beleza de quantos mil cometas
era só um nome...
era Gabi.

quando eu falo, não há quem me ouça
como a beleza daquela moça
a do livro
mexe comigo
a guitarra que o Gilmour usa
as mil rosas roubadas do Cazuza
qualquer coisa pra te ver sorrir!

não sei se vou voltar a encontrar
outro livro que me faça suspirar
depois que eu li Gabi

para Gabi Faleiro, com todo amor e saudade.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

nada além de desejo

pele suada e molhada
boca sedenta e safada
olho fixado, mirada
violas e letras surradas

meu caderno rasurado e de linhas entrelaçadas se pergunta quando escreverei nele, outra vez, cada detalhe da tua respiração.

o autor está morto. o que resta sobrevive na tua interpretação.

mas que morte?

a morte do desejo, por exemplo.
que, de um jeito meio transcendente, ao se realizar, morre em um plano, pra renascer em outro.

e onde fica o poema?
na pequena semente
em cada lamento, um pedaço de gozo na terra
o que treme já foi um segredo

outra pequena semente
nos gritos mudos, o inteiro da revelação dos mares das tuas pernas
a força da maré nunca foi segredo

duas ondas entrelaçadas nos meus quadris.

nada é tão eterno quanto o efêmero vivido até a ultima gota.

põe a língua!

a língua é arma
é corrente
nunca indiferente
é campo de batalha

é dever do poeta quebrar o língua
violentar o sintaxe
criar, dela, ume outre
libertar as entrelugares aprisionados

a disputa do mundo simbólico é vigente
sempre o será
guerra constante pelo domínio da criação dos mundos
e é pela língua!

a multiplicidade de contingências e casualidades
o convivência das temporalidades
os portas para a novo
cada sílaba e letra que movo
as chaves dos grilhões
a matéria prima dos artesões
é pela língua!

na rizomática história das construções terrenas
contra os hierarquias violentas
contra o verticalidade des mecenas
contra a maniqueísmo sanguinolenta

é pela língua!

domingo, 12 de julho de 2020

Ciranda

ando tão distante de ti
nas voltas que o  teu corpo me dá
escrevo cartas com tudo de mim
que se extraviam
nos becos escuros e estreitos do teu olhar

busco teu rosto no asfalto molhado
na lama pesada
na rosa mais simples
não aguento essa ciranda
de todo o velho e todo o novo
minha pele se inflama
e grito! na cama
pelos beijos teus
entre os dedos meus

ando tão distante de nós
nos tempos que minha mente criou
deixei poemas em tudo de mim
que se desbotam
nas esquinas paradas e cheias do teu olhar

busco teu gosto no beijo molhado
no riso pesado
no espinho mais simples
não aguento essa ciranda
de todo o velho e todo novo
minha pele se acalma
qual grito calado
pelos sonhos meus
entre os dedos teus

e a pele fronteira
que guarda a alma
separa a máscara
rompe o tecido
não aguento essa ciranda
de todo o novo e todo o velho
sopra o vento da realidade
pelos beijos teus
por entre os dedos meus
pelos carinhos que foram nossos... um dia.

com Luiz Pi Freitas

quinta-feira, 9 de julho de 2020

o poeta

poeta é dos loucos, poeta é da barbárie poeta é do caos e da ojeriza humana poeta é da madrugada barulhenta e das manhãs felizes poeta é do grotesco e do sublime poeta é da dor e do amor poeta é eterno

entrelugares

se nas trevas de tua indiferença me movo nas brasas vivas do teu toque me prendo quando esfolo minh’alma na tua no amargor calado da saliva crua colho todo o mal que não compreendo na espera de senti-lo de novo Luiz Miranda

sábado, 4 de julho de 2020

ela, o amor!

multiforme
inquieta e acalentadora
arrebatadora
masculina, feminina e muito mais que apenas isso
nas sístoles e diástoles do seu pujante pulsar
banhada em gotas de suor e encharcada por sorrisos e suspiros.

colorida pela miríade de desenhos corporais satisfeitos
invulnerável, como desejos palpáveis - também frágil
carente de cuidados eternos uma odisseia inebriante, letárgica.

incapturável, indefinível... move-se lenta e fatalmente, quando e onde quer
porque ela é livre!
ainda que sejam muitos os que tentem
jamais se dobra aos mandos e desmandos arbitrários e autoritários.

quem seria ela, senão o amor?

ela, vestida das chamas rebeldes da resistência
quebranta as rédeas ditatoriais da imposição
cria caminhos por entre os escombros e brilha!
brilha até cegar os prepotentes, que caem - impotentes!

 ela, ela! a quem conhecemos por amor!

mais alto

"o teu amor pe uma mentira que a minha vaidade quer"               e teu corpo em minha boca               é a verdade que meu des...