sábado, 26 de março de 2022

tormenta

meu amor se deitou na rede
e balançou

quando te viu passar na calçada
tropeçou

caiu de volta no meu peito
rarefeito

ofegante, após sussuros da tua negação
aquietou-se

qualquer que fosse tua resposta ao meu chamado silencioso
tormenta

pesadelo enquanto dormia
foi só um sonho na rede

burnout

Se eu errei,
não foi por falta 
de tentar

olha, eu te amei, menina
e você, qual desculpa
tem pra me dar?

sequilho em prosa

há na secura detalhe delicado, gesto sem jeito, modesto e imperfeito, moldado no forno de tempo passado que, entre os excessos, passa um o recado. embora tão mal vista por entre aqueles que gostam do toque molhado, do suor entre o sentido, quase abafado; há na secura detalhe delicado.

o doce tem caminho muito mais fácil, pois revela a que veio em cada mordida, estampa na língua impressão indubitável, direta e apressada. o doce não se sabe refrear.

há na secura, da qual sou testemunha ocular, paciência de se deixar mostrar, lentamente, perfeito acompanhamento. ainda que de mais difícil mastigar, mas simples de se digerir. sustenta. o doce pede mais. o seco, em si, oferece tudo que traz. sem pretender ser além do que é.

há na secura, por vezes, anseio de se mesclar ao doce e se moldar, em saliva, na boca. e tal loucura, em partícula indissociável, dura apenas até a próxima mordida, quando pede, outra vez, pelo pedaço que ficou ainda na mesa, espaço para ser seca. até que novamente se misture, mostrando, sem pretender mais do que isso, um querer real, próprio e, por natureza, singular a cada vez que se deixa mordiscar.

há na secura o pleno representar do amor.

mais alto

"o teu amor pe uma mentira que a minha vaidade quer"               e teu corpo em minha boca               é a verdade que meu des...