há na secura detalhe delicado, gesto sem jeito, modesto e imperfeito, moldado no forno de tempo passado que, entre os excessos, passa um o recado. embora tão mal vista por entre aqueles que gostam do toque molhado, do suor entre o sentido, quase abafado; há na secura detalhe delicado.
o doce tem caminho muito mais fácil, pois revela a que veio em cada mordida, estampa na língua impressão indubitável, direta e apressada. o doce não se sabe refrear.
há na secura, da qual sou testemunha ocular, paciência de se deixar mostrar, lentamente, perfeito acompanhamento. ainda que de mais difícil mastigar, mas simples de se digerir. sustenta. o doce pede mais. o seco, em si, oferece tudo que traz. sem pretender ser além do que é.
há na secura, por vezes, anseio de se mesclar ao doce e se moldar, em saliva, na boca. e tal loucura, em partícula indissociável, dura apenas até a próxima mordida, quando pede, outra vez, pelo pedaço que ficou ainda na mesa, espaço para ser seca. até que novamente se misture, mostrando, sem pretender mais do que isso, um querer real, próprio e, por natureza, singular a cada vez que se deixa mordiscar.
há na secura o pleno representar do amor.