teu amor é frágil
e teu frágil dói.
é como pássaro novo que cai do ninho e, sobre as folhas já murchas no solo, tenta firmar-se para alçar voo.
mas não sabe voar.
como criança extasiada ao por os pés na terra, correndo e jogando, dominada pela sensação de liberdade, buscando palavras pra pintar o mundo de novas cores que vê.
mas não sabe falar.
teu amor é como o palpitar inebriante de uma galáxia feita coração, mas que se obriga a conter-se, resumindo-se a apenas um sol.
teu amor é feito uma pedra preciosa que já sentiu tanto ser burilada que não tem forças para perceber-se brilhante e deslumbrante.
é uma vela cuja chama está quase a apagar-se, a ponto de não julgar-se digna de emanar luz, ainda que, sem dar-se conta da própria força, resista meio ao vento e ao chuvisco.
o teu amor, meu amado, é doce e acanhado. te sentes culpado por sentir, por não creres no que sentes. embora sintas. e gostes. e queiras.
preferes não.
é que o medo da flecha no peito suprime o sentir. a não ser quando sentir avassalador.
morte ao homem que deixou-se sangrar outra vez!
quem dirá? tu mesmo!
até que emerja, da mesma terra que sente os pés da criança, as folhas murchas e as penas do pássaro, quem visceralmente rasgue a tua pele, de dentro pra fora, divida tua alma e teu corpo, separe o ontem do agora e te liberte para sorrir. mesmo que, a princípio, só de um lado do rosto.
teu amor poderia ter se perdido em alguma clareira ou mata fechada. mas haverá sempre, inegavelmente sempre, quem o possa resgatar.
quem dirá? outra vez, tu mesmo.