sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

correnteza

força da natureza
correnteza 
carrega em si dois corações em um
sentimento abençoado por Oxum

como raios e ventos em agitada manhã
envolve o espírito e o encobre 
armadura de ferro e cobre
sagrado escudo de Iansã

aio, aio, Oyá
cantar, sentir, dançar 
aio, aio Oyá

vem sem pressa, meu calor
vem sem medo, vem raiar
colorir o nosso amor

ao Jo

o ecrã

é no detalhe íntimo do buraco de minhocas
pelo objeto xamânico que supera o tempo e o espaço
que nossa alquimia acontece

o reembaralhar dos elementos e dos sentidos
dos momentos juntos vividos
dos suspiros de mais que amigos 
dos cigarros ainda não acendidos

só o que nos falta é... o que nos falta?
botemos em pauta
se tenho teus olhos e sei o que pensas 
se tens meus ouvidos e toda a essência 

seria a distância mesmo assim tão intransigente que intransponível?

embora minhas mãos não alcancem teus lábios...

(ah, e que lábios...)

mesmo assim, o que tens de mim é tão forte quanto o elixir que torna ébrio o mais sensato dos sábios 

o objeto banal
se transforma em canal
do desejo mais carnal
transcendental

por onde acesso a paixão
separo o ontem que não perdemos
do futuro que ainda não temos
e observo os infinitos

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

ODE AO AMOR DO LEÃO

teu amor é frágil
e teu frágil dói.

é como pássaro novo que cai do ninho e, sobre as folhas já murchas no solo, tenta firmar-se para alçar voo.

mas não sabe voar.

como criança extasiada ao por os pés na terra, correndo e jogando, dominada pela sensação de liberdade, buscando palavras pra pintar o mundo de novas cores que vê.

mas não sabe falar.

teu amor é como o palpitar inebriante de uma galáxia feita coração, mas que se obriga a conter-se, resumindo-se a apenas um sol. 

teu amor é feito uma pedra preciosa que já sentiu tanto ser burilada que não tem forças para perceber-se brilhante e deslumbrante.

é uma vela cuja chama está quase a apagar-se, a ponto de não julgar-se digna de emanar luz, ainda que, sem dar-se conta da própria força, resista meio ao vento e ao chuvisco. 

o teu amor, meu amado, é doce e acanhado. te sentes culpado por sentir, por não creres no que sentes. embora sintas. e gostes. e queiras. 

preferes não.

é que o medo da flecha no peito suprime o sentir. a não ser quando sentir avassalador.

morte ao homem que deixou-se sangrar outra vez!

quem dirá? tu mesmo!

até que emerja, da mesma terra que sente os pés da criança, as folhas murchas e as penas do pássaro, quem visceralmente rasgue a tua pele, de dentro pra fora, divida tua alma e teu corpo, separe o ontem do agora e te liberte para sorrir. mesmo que, a princípio, só de um lado do rosto.

teu amor poderia ter se perdido em alguma clareira ou mata fechada. mas haverá sempre, inegavelmente sempre, quem o possa resgatar.

quem dirá? outra vez, tu mesmo.

sábado, 5 de dezembro de 2020

encontro sindical

eu sei que há um lugar 
não sei bem onde está
eu sei que há alguém que espera e vê

talvez eu vá pra lá
talvez você também
talvez o que era sonho passe a ser real

na vida não há muito o que pensar
se chega uma paixão pra te abraçar
aquele manso e simples
intenso e singular

eu fiz essa canção pra dizer que eu quero muito te encontrar

ao Jo.

pêssego

quanto tempo "temos tempo" quer dizer?
quanto tempo precisamos pra saber?
na fazenda, no gramado, sob o sol...
todas as cores e flores sorrindo pra nós.

cedo ou tarde, nosso tempo vai nascer
no sossego, aprendendo a crescer
entre os discos, ney e chico - e coisas tais
plantas e santos, é tanto... eu quero bem mais.

faço tudo diferente
faça tudo sem pensar
soa pouco ou quase nada
mas nada é a soma de tudo que há!

carta dos intensos

mergulhei com tudo de mim
mais profundo do que o ar do meu peito pôde suportar.

enquanto descia, senti a pressão d'água aniquilar todos os meus medos. e sorri.

foi quando me dei conta de que o raso não faz parte da minha existência.

ao amigo Luiz Mário

(re)composição

letra sem som... poesia.
acorde colorido.
parceria de sangue... de outras eras.
tempos idos, mas não esquecidos.

na dor de agora nasce a canção
na melancolia de hoje, laço
composição.

do "eu" e do "tu"
minha e tua.

no ocaso do ontem, 
na espera do caudaloso porvir...

melodia.

ao amigo Luiz Mário.

paixão sindical

o sangue que corre em minhas veias era gélido
onde me alcançava o olhar a vista era desolação
não havia nada além do mais escuro céu.

até que, como um sopro de cura, teus olhos verdes me tomaram a mão

e como multidão de pessoas apaixonada e em luta, nos tornamos um só.

mais alto

"o teu amor pe uma mentira que a minha vaidade quer"               e teu corpo em minha boca               é a verdade que meu des...