Tempo é domínio; usado para o que se tem fascínio, mesmo que quando menino. Por isso é no ônibus, entre a ilha e o continente, que escrevo sobre o que me faz contente.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
correnteza
o ecrã
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
ODE AO AMOR DO LEÃO
sábado, 5 de dezembro de 2020
encontro sindical
pêssego
carta dos intensos
(re)composição
paixão sindical
sábado, 21 de novembro de 2020
ode ao banal
estou vivendo pelo banal. nada além do completo despropósito passa pela minha cabeça. dou vazão a todo sentimento inócuo, trivial, passageiro e transeunte. as atitudes estéreis me alimentam.
me sinto em um longo mergulho, como em profundidade infinita, a densidade age contra o crânio e a superfície se perdeu de vista.
quem quer que viva sem saber que vive, não estará, de fato, vivendo. mesmo estando presente. e tocando em tudo. e movendo as coisas.
é como facão sem fio, que não corta como deveria, mas sangra. na paulada. é como fina neblina, que impede a visão mais primária: a de si próprio. como a tempestade de areia, contra a qual não há luta. só se pode aceitar o infortúnio, por as mãos frente o rosto, lançar-se para trás e deixar-se cair.
domingo, 8 de novembro de 2020
diálogo #1
mais uma tarde comum
quarta-feira, 7 de outubro de 2020
nada demais
Tudo que te prometo é isto: NADA. Nem a decepção do que não posso entregar. Nem a alegria da surpresa; mas a mim. Todos os dias. Inteiro.
Não te prometo uma vida que não posso prever. Não te faço promessas eternas. Não te prometo o eu de amanhã. Te prometo o de hoje. Todo.
Não te prometo a alegria, mas sentir tuas lágrimas. Não poderia te prometer nada incomum; nada além da devoção no banal, no corriqueiro. Os dias mais absurdamente normais.
A paisagem menos inebriante.
A mais cinza.
O céu mais desgraçadamente desinteressante; o mais esquecível.
Este será o nosso cenário.
E não porque eu não te ame.
Esteja certo do oposto.
Te ofereço a constância dos dias medíocres, apenas porque estes são mais numerosos. Não te prometo o que não posso mudar. Apenas a devocional singeleza do cotidiano. Comigo.
Se algo além do mais universal e público acontecer, algo que desponte, no meio do oceano da trivialidade, será meu prazer vivê-lo e esquecê-lo contigo. Para voltarmos à rotina da existência. Eu não seria tolo a ponto de te dizer que posso tornar o mundo menos mecânico e pontual do que é. Mas podemos enfrentar a tediosa encarnação juntos.
Por te amar, prometo-me e só.
Menos ainda, prometo nada.
Apenas tudo de mim.
Cê bem que queria
deitado, de lado
de braço enrolado
por horas e horas a fio
mais forte que um tiro
o teu ar que eu respiro
um vinho que nunca bebi
só vim te ver
cadê você?
não tem mais segredo
eu morro de medo
de não ter você mais aqui
não sei se acontece
mas faço uma prece
eu juro com tudo de mim
me sobes no peito
sempre do teu jeito
é tudo bem simples assim
no segundo dia
cê bem que queria
meu beijo dou todo pra ti
Agonia
Dá pra mudar?
Voltar atrás e esquecer.
Quanto tempo leva pra crescer?
Não sei se... se me entendes, mas que duro golpe pode vir a ser.
No fim das contas, um passo pra trás e um suspiro profundo te fazem notar a dureza do mundo.
A realidade pintada com requintes de ironia, sarcasmo em alto relevo, marteladas de pura agonia.
Poderia esperar mais?
Só o sabor de lágrimas.
Lágrimas que, por amor derramadas, colam as paginas do livro que conta história do destino.
Sem ti. Senti.
sexta-feira, 28 de agosto de 2020
Ex Nihilo
Me contaram, com a crueldade que carregam todas as conversas casuais, que queres ser escritor! Que bela lástima escolheste para chamar de dor própria. Confesso que não pude aquietar-me antes de escrever-te esta breve carta. Confinei-me em minha própria mente para tentar, em um lapso de lucidez, ajuntar argumentos o bastante fortes para abrir-te os olhos com sensatez, arrancando de tua cabeça tão descabida ideia. Fracassei. O fato é que o homem não pode fugir de seu destino. Mesmo porque não existe destino.
Tentei, então, pensar em razões para não enviar-te uma carta. Fracassei, mais uma vez (o que me levou a perceber a estranheza do momento e das reações que a notícia causaram em mim, posto que raramente erro; muito menos ainda duas vezes, em tão pouco tempo, no mesmo dia). Iniciei esta carta sem saber porque escrever, mas sem motivos que impedissem de fazê-lo. E, justo por isso, esta carta tem algum valor de conselho. Por não saber o que escrever nem porque não escrever, escrevi. Sem direção. Sem rumo. Escrevi o que me foi jogado à cara. E isto posso dizer-te com leveza de espírito: escreve o que o ócio te jogar à cara. O ofício de escrever se trata de poder escrever como e quando quiser. São teus o papel e a pena, oras bolas. Põe-te a escrever, se é esta a morte que queres para ti.
Digo morte porque, para o escritor, esta é a direção para qual se corre, desatento e desprecavido, a medida que se escreve. Isto porque, na dialética do escrever e do viver, todo escritor se torna um leitor da inexorável realidade que lhe ronda. Realidade carregada de lírica e uma forma de agir, da eterna profundidade barroca da dualidade, o que faz do escritor um monstro sem tempo e sem território próprio: ele é uma somatória de momentos e lugares que, salvo raríssimas vezes, são só seus. O escritor é, por natureza, um observador. Um ferreiro, que molda situações como se fosse ferro - repetidamente, por força bruta. Porque é necessária a violência para tomar a língua nas próprias mãos nuas, para quebrá-la, sem a fraqueza da piedade, fazendo com que dela, já tão exaurida e insuficiente, surrada e incapaz de agir, dela própria, saia novo elixir, nova língua, novo poder. Se faz, assim, um inventor. Não só de histórias; de mundos.
E, por falar em tempo, atente-se que nenhuma sorte é imune à intransigência do tempo. Muito menos a do escritor. Muitas temporalidades dentro de poucas linhas. A história que tentara narrar já não era mais a mesma ao final do enredo, posto que nem consigo mesmo pudera ser constante, pois sucumbiu, graças a Deus, aos devires impostos pelo tempo. A traição da letra, que deveria ser a prova da veracidade do testemunho, mas que trabalha justamente como carrasco - da tinta e do autor. Esta mesma carta: a história que deveria ser do hoje - mas já não pode ser, a medida que se tornou do ontem, até que chegue às tuas mãos, meu jovem rapaz. De fato, escrever é uma atividade anacrônica. Como disse o velho Borges, as palavras são símbolos que postulam a uma memória compartilhada. Assim, a língua é um sistema de citações. Portanto, de lembranças.
Assim, se é a prisão que realmente almejas, a liberdade encontrarás. “Velho louco”, hás de pensar. Erras. Não sou velho. Para que diante dos olhos se desenlacem os grilhões da escrita e se vislumbre a liberdade, de uma coisa não se pode prescindir: contemplar a emergência do tempo. Emergência, não como se fora urgência, mas como aquilo que, sem aviso prévio, emerge; o mistério do que não conhecemos e para o qual não estamos prontos, mas absolutamente desprevenidos. O tempo. Não sabemos como reagir, menos ainda o que propor, diante do abismo de aparências indecifráveis. Contemplar, questionar, aceitar a ignorância e esperar que contingências e acasos nos ofereçam a mão que abrirá as portas para soluções - ou novas questões. Ou a mão que arrancará o véu e mostrará a verdadeira face do assombroso desconhecido.
Como se não bastasse tamanha desgraça, escritor não tem terra. Não tem chão onde possa desmaiar, nem palmeira sob a qual recobrar o fôlego. Não tem pátria para chamar de lar. O território do escritor são as planícies das folhas. Telas multidimensionais, onde se desdobram o drama, a comédia, o real, o abstrato, a catarse.
Tamanha é a responsabilidade da pena e do papel que, para todos os que sofrem os desmandos do tempo e que não encontram para si lugares que não entrelugares, e que, ainda mais desgraçados, não contam com a escrita, assume o escritor o papel de Deus: o detentor do poder e, portanto, sobre quem pesa a obrigação de, ex nihilo, criar. Torna-se não só artesão de seu próprio mundo, mas o soberano que concede a asilo ao despatriado.
Não falo de coisas as quais farei, mas de coisas que gostaria de ter feito ou sabido antes, e que, ainda hoje, de verdade, me empenho em querer. Estou certo de que me perdoarás, ao menos por não conhecer-me, pela incoerência do meu querer: quero muito, mas nem sempre o faço, de modo que minha vontade mais patética é, na verdade, meu logos, minha linguagem, minha palavra, não meu ato. Meu último conselho, não sei bem se posso classificar este amontoado de palavras assim, é este: Neruda, Borges, Cortázar, Fuentes, García López, Amado, Machado, Guimarães Rosa, Drummond de Andrade… a todos estes, a quem conheces, cuidas e, de fato, amas; quero que os tomes, que comas, que engulas, no ritual mais antropofágico que puderes. Devore as suas palavras como nutrientes. Só encontra a liberdade da perpétua pena de escrever aquele que, em alguma outra página, roubou a chave do cárcere.
Luiz Miranda, 2020, ano do isolamento.
soneto do homem comum
senti em meu rosto a mansa brisa
o toque da flor que suaviza
como o dos teus dedos nos meus eu confundo.
seja deitado, nu, em minha cama
ou pilotando os ventos, em mim abraçado
cada gesto do teu corpo proclama
tua liberdade, de perfume imaculado
dos amores, só me lembro do teu
das cantigas, só me importa a tua
cantada por ciganos, sob a lua
dos perigos, não me lembro - nenhum
és a rima do poema meu
tornas poeta este homem comum
p/ o homem-inspiração, todos os dias,
d. luiz miranda
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
medo
sábado, 8 de agosto de 2020
amor em tempos de peste
quarta-feira, 29 de julho de 2020
travessia
onde foi parar?
a face amiga do lado...
já não mais está.
onde está o amor?
o acorde ao acordar?
a amiga tão querida,
a nota já perdida,
a risada estridente,
onde está a gente,
sofrida, mas contente?
que canta pelos cantos,
de todos os encantos
o mais belo colorir.
onde os vagões do trem da vida
vão nos levar?
à travessia mais bonita!
põe a vida no lugar.
com Luiz Pi Freitas
estrada
cabisbaixo, pelos cantos
anda logo aqui
me conte a razão desse teu pranto
ei, você aí! que anda tão triste
cabisbaixo, pelos cantos
senta logo aqui
me conta teu caminho nessa estrada
eu quero que você me mostre toda dor
eu quero que você se livre deste peso que te marca
te veste de alegria, toma a vida pelas mãos
eu quero que você deixe os seus medos na calçada
quase nada...
ei, você ai! me deixe te dizer o que me trouxe até aqui
corre logo aqui que eu conto a razão do meu sorriso
tenho muito mais cicatrizes do que alegrias
mas não importa... ainda canto
canto a minha história
e carrego minha paz nessa jornada
quase nada você leva daqui.
com Luiz Pi Freitas
flor de lis
que eu quero me molhar
traz o riso pra aqui dentro
eu quero gargalhar
vem aqui, flor de lis
não demora pra se achegar
vem de novo, sempre quis te encontrar
traz teu sonho, traz teu beijo
que eu quero me banhar
não demora, vem de novo
perco os pés ao caminhar
você corre e eu te chamo
no teu peito eu me arramo
tua carne à flor da pele
tua saliva me derrete
vem aqui, flor de lis
não demora pra se achegar
vem de novo, me bate, até me remoldar
com Júlia Freitas
Gabi
quarta-feira, 22 de julho de 2020
nada além de desejo
boca sedenta e safada
olho fixado, mirada
violas e letras surradas
meu caderno rasurado e de linhas entrelaçadas se pergunta quando escreverei nele, outra vez, cada detalhe da tua respiração.
o autor está morto. o que resta sobrevive na tua interpretação.
mas que morte?
a morte do desejo, por exemplo.
que, de um jeito meio transcendente, ao se realizar, morre em um plano, pra renascer em outro.
e onde fica o poema?
na pequena semente
em cada lamento, um pedaço de gozo na terra
o que treme já foi um segredo
outra pequena semente
nos gritos mudos, o inteiro da revelação dos mares das tuas pernas
a força da maré nunca foi segredo
duas ondas entrelaçadas nos meus quadris.
nada é tão eterno quanto o efêmero vivido até a ultima gota.
põe a língua!
domingo, 12 de julho de 2020
Ciranda
nas voltas que o teu corpo me dá
escrevo cartas com tudo de mim
que se extraviam
nos becos escuros e estreitos do teu olhar
busco teu rosto no asfalto molhado
na lama pesada
na rosa mais simples
não aguento essa ciranda
de todo o velho e todo o novo
minha pele se inflama
e grito! na cama
pelos beijos teus
entre os dedos meus
ando tão distante de nós
nos tempos que minha mente criou
deixei poemas em tudo de mim
que se desbotam
nas esquinas paradas e cheias do teu olhar
busco teu gosto no beijo molhado
no riso pesado
no espinho mais simples
não aguento essa ciranda
de todo o velho e todo novo
minha pele se acalma
qual grito calado
pelos sonhos meus
entre os dedos teus
e a pele fronteira
que guarda a alma
separa a máscara
rompe o tecido
não aguento essa ciranda
de todo o novo e todo o velho
sopra o vento da realidade
pelos beijos teus
por entre os dedos meus
pelos carinhos que foram nossos... um dia.
quinta-feira, 9 de julho de 2020
o poeta
entrelugares
sábado, 4 de julho de 2020
ela, o amor!
inquieta e acalentadora
arrebatadora
masculina, feminina e muito mais que apenas isso
nas sístoles e diástoles do seu pujante pulsar
banhada em gotas de suor e encharcada por sorrisos e suspiros.
colorida pela miríade de desenhos corporais satisfeitos
invulnerável, como desejos palpáveis - também frágil
carente de cuidados eternos uma odisseia inebriante, letárgica.
incapturável, indefinível... move-se lenta e fatalmente, quando e onde quer
porque ela é livre!
ainda que sejam muitos os que tentem
jamais se dobra aos mandos e desmandos arbitrários e autoritários.
quem seria ela, senão o amor?
ela, vestida das chamas rebeldes da resistência
quebranta as rédeas ditatoriais da imposição
cria caminhos por entre os escombros e brilha!
brilha até cegar os prepotentes, que caem - impotentes!
ela, ela! a quem conhecemos por amor!
domingo, 28 de junho de 2020
Primeiro Ato - o Éden
Deus: e o que a gente faz com isso?
quinta-feira, 18 de junho de 2020
tempos idos
Me voltam à mente as lembranças
Dos tempos de mesa repleta e cheia de gente
Correndo em volta da casa
Crianças fazendo algazarra
Ouvindo as vozes adultas sem se importar
O tempo parava e corria
Sem pressa e quando bem queria
Mamãe servia a comida, já era o jantar
Vovó saia à rua, sorridente
Abraçava seus filhos e netos com tudo de si
A felicidade pulsava em cada risada
Ah, que saudade da vida que um dia vivi!
terça-feira, 16 de junho de 2020
medievalismo moderno
segunda-feira, 15 de junho de 2020
Com Você
nasço, me desfaço,
morro e renasço;
quiseram meus olhos, toda vez
abrirem-se para encontrar os teus!
que tal fazermos dos teus dias,
pra sempre, os mesmos que os meus?
feliz segundo (e contando) dia dos namorados juntos!
te amo, neni
sábado, 6 de junho de 2020
Tríade
Caminho, sozinho, no teu carinho
Me excito neste rito e não hesito
Me ergo sobre o fogo do perigo
Conduzo, confuso e profuso
o saudoso gozo pomposo
Nas veias, às areias das aldeias
Como verme, no aterme de tua derme
Indecente, o presente incandescente
Ecoa, à toa, na proa
Da barca que remarca, mui fraca
Os suspiros e respiros brejeiros
Não selados, arrolados e velados
Do passado, vivido e amado.
Até quando?
quarta-feira, 3 de junho de 2020
antítese de mim
sorte
volte agora mesmo pra mim
como ousas ter vida própria?
como ousas seguir adiante?
que disparate a tua intrepidez!
então quer dizer que eu não sou a tua vida?
de onde tiras tamanha altivez?
que presença desinibida!
não gosto nada dessa ideia!
não encontro panacéia
para o despudor de, além de mim, seres feliz.
mas, também, pudera!
que desatino meu!
não percebi que em ti se fizera
a morada dos encantos, luz que dissipa todo breu!
de verdade, só podia estar louco!
como não haveria de ser assim?
tens consciência do que dizes, poeta insano?
me fazes rir, e não pouco!
perdão, meu amor. és muito mais sem mim!
vives um milênio em um ano.
teria mesmo sorte se voltasses para meu velho abrigo
abandonando ao desalento teus outros caminhos
cultivando minha flor, mesmo com seus espinhos
com os quais, por vezes, eu mesmo brigo.
mais alto
"o teu amor pe uma mentira que a minha vaidade quer" e teu corpo em minha boca é a verdade que meu des...
-
a língua é arma é corrente nunca indiferente é campo de batalha é dever do poeta quebrar o língua violentar o sintaxe criar, ...
-
todo sofrimento vale após um amor digno de morrer.
-
não é sempre que a gente sabe o que sente eu, por exemplo, sinto de repente uma paixão ou gripe não é sempre que sei qual é qual. há, por v...