sábado, 21 de novembro de 2020

ode ao banal

estou vivendo pelo banal. nada além do completo despropósito passa pela minha cabeça. dou vazão a todo sentimento inócuo, trivial, passageiro e transeunte. as atitudes estéreis me alimentam. 

me sinto em um longo mergulho, como em profundidade infinita, a densidade age contra o crânio e a superfície se perdeu de vista. 

quem quer que viva sem saber que vive, não estará, de fato, vivendo. mesmo estando presente. e tocando em tudo. e movendo as coisas. 

é como facão sem fio, que não corta como deveria, mas sangra. na paulada. é como fina neblina, que impede a visão mais primária: a de si próprio. como a tempestade de areia, contra a qual não há luta. só se pode aceitar o infortúnio, por as mãos frente o rosto, lançar-se para trás e deixar-se cair.

domingo, 8 de novembro de 2020

diálogo #1

- oi. tudo bem? eu queria falar uma coisa, bem rapidinho, contigo.
- oi. fala.
- você sabe que eu preciso de “encerramentos”, né? não suporto nada “não dito”.
- acho que eu e você estamos bem e gosto disso. não precisa ser como da última vez. será que precisa?
- eu preciso, porque é lógico que tem aquela dor, aquela chateação. inevitável.
- se você acha que sim, sou todo atenção. 
- vou fugir de sentimentalismos, não quero que seja um texto emotivo, pra nos fazer chorar ou algo do tipo. vou tentar não ser metido a poeta!
- você não consegue... eu gosto disso.
- eu lamento que tenhamos chegado ao fim de um ciclo. você foi e vai continuar sendo por um bom tempo o grande amor da minha vida. mas sabe... tem muitas mais coisas que eu NÃO lamento!
- também não lamento.
- calma, eu não terminei. ah...
- eu deveria saber, né? (risos)
- me deixa terminar, não me faz mudar de palavras. (risos)
- o senhor me desculpe, viu?
- enfim... não lamento esses quase dois anos, o tanto de momentos incríveis que vivemos juntos, ter compartilhado uma casa contigo, ter recebido TANTO do teu apoio, TANTO de você! ter te visto nu de corpo e de alma. caralho, foi incrível.
- isso é lindo. 
- eu quero teu sucesso. eu quero teu bem. tua felicidade. quero ver tua arte florecer (não deixa isso morrer. investe!). tu és foda e tenho uma inveja gigante da tua sensibilidade artística.
- eu também te admiro. obrigado por notar. nem todo mundo percebe isso. 
- eu sei. além disso, não lamento ter deixado de ser cabeça dura e ter ido atrás de ti quando meu coração gritou mais alto do que minha “razão”. não lamento mesmo! eu não acho que a gente “não deu certo”. a gente deu foi certo pra um caralho. 
- é uma pena que nós queiramos coisas diferentes. 
- mas eu quero, MUITO - e não vou cometer o erro de ser sufocante, como da última vez -, ser teu amigo, pro resto da vida. apesar de eu ter falhado na promessa e estar chorando agora, é um texto alegre! mesmo. esse final de semana serviu pra eu ver que a gente não precisa se afastar. quem sabe, agora, por ora; não sei. mas não definitivamente.
- eu quero muito poder ver isso tudo. mesmo.
- eu te amo e isso NÃO VAI MUDAR. so vai se transformar em outro amor, talvez. mas eu quero muito teu bem e estar perto de ti, saber de ti e poder viver mais coisas boas - em um outro ciclo -
contigo.
- você vai amar novamente, eu vou amar novamente... e a vida vai seguir. 
- eu sei. mas, por favor, segue comigo. como meu amigo. mesmo. real oficial. fica perto de mim, quando você sentir que da.
- acho que sim. eu também amo você. é uma das poucas certezas que tenho.  
- quando você disse que não queria mais, eu vim pro quarto e escrevi algo na agenda que você me deu. e vou deixar aqui, pra sempre
- o quê?
- "ah, dia escuro... o vento sopra e eu escuto. 'Amanhã é melhor', diz o tolo sobre tudo. Não vai doer, se for pra ser. O amor não acaba, nem se deixa morrer. Vira cinza, se transforma e volta a crescer."
- eu acho que essa é a coisa mais linda que já me escreveram. 
- é o mais sincero que já escrevi.
- fica bem?
- fico. e você?



mais uma tarde comum

já tem dias que o ar do meu peito se tornou rarefeito
a menção da tua ausência é violenta
cinzenta
não sei para onde vamos
não sei onde estou
nem onde quero chegar
não temos hora pra voltar
meu destino importa menos que a companhia nos percalços do caminho

você é tudo que eu não possuo, não posso possuir e não suportaria perder. 

mais alto

"o teu amor pe uma mentira que a minha vaidade quer"               e teu corpo em minha boca               é a verdade que meu des...