sábado, 28 de janeiro de 2023

berimbau

nessa manhã o amor voou embora
e eu, que só sei viver em sua companhia, me senti como em suspenso
feito avião no ar

olhei pro norte, pra onde se foi
sorri do que ontem mesmo chorei
e ri de mim
da graça que é viver
da graça que é você
do bom que é não esquecer
aprendendo a olhar pra rua cheia e encontrar o seu sorriso
que é revelia e me vira do avesso
ora apoio, ora tropeço
sempre dúvida, tantos quase, um único concreto
que ficou, há tanto, pra trás 

mas há de renascer a cada nova entrada do vento leste trazendo a água gelada, ao som de berimbau

zodiac

gemini guys might make it all intense like a gun, but the rapid farewell under midday sun deserves better than half a cigarette before taking off, imprisoning forever the last days fun

from the five best things of life I choose the light
shining bright blue out of your eyes
and I dive 
more than in waves - or whatever you said you like when I couldn't pay attention to words, lost in your world

as crazy as it sounds - and I truly admit it was - beyond the loveliness of pisces and dances, taurus and chorus, music and zodiac scream one truth to me: leo.

bagunça

ele chegou, encontrou a casa arrumada e foi embora, deixando tudo a mais perfeita bagunça.
minha sala, de pernas pro ar
meu quarto, mal consigo entrar
na cozinha, comeu toda a sobremesa
na varanda, cinzas sobre a mesa

eu, saudoso do seu ímpeto, não vou limpar
prefiro a bagunça por agora
depois chega outro alguém pra cuidar 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

amor de morrer

todo sofrimento vale após um amor digno de morrer.

Auf Wiedersehen

adeus. a nós. a deus. ateus. sois vós. sou eu. pavor. olhou com amor. doeu. agulha. mergulha. entulha sentires. sentidos. sortidos. os braços mordidos. salgado. molhado. alado. pardal de metal. ausencia banal. calor infernal. inverno. o cotidiano. trabalha com os seus. adeus.

Carta a quem não de interessa

Nao vou te tirar do anonimato, já que o que tivemos nunca teve nome. Não vou chorar, porque tuas lágrimas ao nosso último encontro já dão conta da emoção que um dia nos envolveu - e que, contra meus incansáveis esforços, morreu há tempos. Me disseram que eu preciso deixar ir. E como faz quando eu não sei? O que sobra quando a partida, pra mim, é a morte? De fato, pareço chegar atrasado para o derradeiro adeus, visto não ter sido convidado para o funeral. Cremação, eu suponho, pelos restos de cinzas jogados pelo salão. Me teria feito bem, por uma última vez, encarar seus olhos, mesmo que já inanimados, gélidos e fixados - não lá tão distintos de quando em vida - para dizer que entendo e lamento a sorte que nos foi outorgada pela juventude dos nossos dias e desatinos dos nossos impulsos. Nossos, digo, porque, ainda que negues (e não morreste negando?), fizeste tua escolha, confusa, até incompatível com alguns sinais; tampouco carrego culpas pelo que senti. Tua partida me regala espaço para novos sentires. No fim, foi eutanásia. E tu mesmo puxaste os fios. Que a morte nos seja leve. 

eu te olhei em soneto

por um instante só, eu te olhei
ao por-do-sol, eu te olhei
a caminho da Califórnia, eu te olhei
já com aves a voar ao nosso redor, te enxerguei

sibilavam as cordas, eu te olhei
sem querer ir embora, eu te olhei
com ketchup e maionese, eu te olhei
no gole que satisfaz, te enxerguei

sem saber fazer poema
sem um beijo, algum jazz como tema
te olhei

talvez só por duas semanas
perguntaram "a quem olhas?"
foi teu nome que falei.

poema sem título

por que tão difícil? 
fácil fosse seria banal
e entre todas as injúrias justas a serem desferidas contra o amor
displicente não se encontra

serragem

a maldição do poeta é sentir cada pingo no i, dito ou oculto, como prego na madeira do corpo. este pobre maldito não é tocado pelo ciúme, mas cravado pela falta. não se trata, na maior parte do tempo, de não querer para outros - mas de desejar um pouco também para si.

eu mesmo, que poeta não ouso ser, apenas por escrever estas linhas despretensiosas, sinto o martelar no peito, como se apenas pra isso existisse meu corpo: uma tábua, destinada a ser porta, enquanto anseia ser na parede o teu quarto a moldura que abraça teu quadro.

as mãos que marcam e gravam tatuagem em pele própria, em paisagem onírica, se tornariam altruístas e concederiam a este velho cedro o grosseiro acariciar uma vez mais. ou mil. até que, de fato, não reste mais nada que não serragem.

"quero ficar no teu corpo, feito tatuagem, que é pra sentir coragem pra seguir viagem quando a noite vem"



pulsar

a dor do amor surrado lateja num lugar vazio.

besteirol

seu azul tão compenetrado em um assunto qualquer
meu tarot, diz pra mim o tamanho que o vazio vai ter
me nega o beijo que jamais me prometeu 
com a mesma brandura do que deixou escapar e deu

teu cigarro lança fumaça que repele insetos
ao mesmo passo que propaga incertos
por entre teus dedos escorrendo, como em uma fenda
de maneira que talvez na Alemanha se entenda

ondas na vila, pedra do farol
livros e discos, meu besteirol
viagem em sonho, já acordei
não gostei do real sem você 


"Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei"

aquarela

gostar de alguém é despencar no incerto
basta se sentir longe pra querer estar perto
não há tamanho, tampouco idade 
é deste alguém o monopólio da saudade

um dia e nem o mar resiste
e muda
se aprofunda
se revela
insiste
cresce
transborda
se rebela
discorda.

a estrada não merece teu calcanhar
e mesmo o sol há de passar seus dias a sonhar
com o tempo em que teu corpo era sua tela
um espetáculo em aquarela

volta, já, agora mesmo, clama toda a natureza
não se trata da minha vontade, mas do correto balanço universal
afinal
o que mais seria a beleza
senão tua pele em luz e sal?

mais alto

"o teu amor pe uma mentira que a minha vaidade quer"               e teu corpo em minha boca               é a verdade que meu des...